sábado, 22 de novembro de 2008

Imigração insuficiente para travar queda da população em Portugal

DN, Quinta, 13 de Novembro de 2008
SUSANA SALVADOR
Portugal vai perder mais de meio milhão de habitantes até 2050, ao contrário da maioria dos países da Europa Ocidental, que terão um aumento da população nas próximas décadas. Segundo um relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), ontem divulgado, o nosso País terá menos 700 mil habitantes, passando dos actuais 10,7 milhões para os dez milhões (menos 6,5%). Espanha, pelo contrário, sobe de 44,6 para 46,4 milhões.
"Não parece haver uma aparente razão para que a população espanhola aumente mais que a portuguesa. A natalidade de ambos os países tem sido mais ou menos a mesma", referiu ao DN o presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD), Mário Leston Bandeira. "A população espanhola tem crescido à custa da imigração, tal como a portuguesa. Mas num contexto de crise económica, e estando a Espanha já em recessão, é difícil saber o que acontecerá no futuro", explicou.
Há muito que os sociólogos apontam as razões para a baixa taxa de fertilidade em Portugal - 1,46 filhos por mulher, abaixo da média europeia, fixada em 1,59. As portuguesas optam por ser mães cada vez mais tarde, diminuindo a hipótese de terem um segundo filho. O problema passa também pelas dificuldades económicas que têm em constituir uma família. Ao contrário do que se passa em relação a Espanha, Leston Bandeira não se surpreende com os números de França, o país europeu com a mais elevada taxa de fertilidade - dois filhos por mulher. Segundo o relatório do FNUAP, de 61,9 milhões de habitantes, França passará para os 68,3 milhões. Melhor só mesmo o Reino Unido, que terá um crescimento populacional de mais de 7,7 milhões em 2050, alcançando os 68,7 milhões. Bélgica, Holanda, Finlândia e Suécia são outros países com saldo positivo.
Pior que Portugal está contudo a Alemanha, onde a natalidade é um problema há décadas. Segundo as projecções, contará com menos 8,4 milhões de habitantes. Ainda assim, com 74,1 milhões, continuará a ser o mais populoso país europeu. Estes números contradizem os dados recentes do Eurostat, segundo os quais em 2050 a Alemanha perderia a liderança para Reino Unido e França - dois dos poucos países em que a imigração ainda seria suficiente para compensar a queda da população. Nos outros países da Europa, 2035 é visto como o ano da viragem. "A imigração de substituição é uma solução para compensar a diminuição da natalidade, mas depois...", referiu Leston Bandeira.
Olhando para os números do continente, a Europa será a única região a registar uma diminuição do número de habitantes até 2050: de 732,1 milhões para 664,7 milhões. Ao nível global, seremos 9191,3 milhões, mais 2441,6 milhões que actualmente. "É muito difícil fazer este género de projecções. A principal função destas projecções é alertar-nos para as consequências da situação que se verifica na actualidade. Um alerta a dizer que temos que crescer demograficamente", lembrou o presidente da APD. "As crianças são o principal capital de uma sociedade, basta ver que hoje em dia são os países mais populosos que são as novas potências emergentes", acrescentou.
Além da diminuição da taxa de fertilidade, a Europa tem ainda que enfrentar outro problema: o declínio demográfico. "Não é só a população a diminuir, temos também que ter em conta a pirâmide demográfica e o envelhecimento da população. É outra situação à qual vamos ter que nos adaptar", explicou Leston Bandeira.

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